Nas rodas de conversa e nas redes sociais, sempre surge a mesma pergunta: por que algumas pessoas, mesmo sendo consideradas arrogantes ou 'escrotas', parecem exercer um fascínio quase irresistível, atraindo admiradores, despertando ciúmes e se tornando alvo de desejo? A psicologia social e a psicanálise oferecem explicações científicas para esse fenômeno, que mistura carisma, percepção coletiva e mecanismos inconscientes do desejo humano.
O poder do carisma
Segundo o psicólogo Ronald Riggio (2009), o carisma é resultado da combinação de autoconfiança, linguagem corporal dominante e comunicação eficaz. Indivíduos com esse perfil são naturalmente percebidos como líderes, despertando admiração, mesmo que suas atitudes nem sempre sejam positivas ou éticas.
Quando a beleza encobre os defeitos
O fenômeno conhecido como 'efeito halo', descrito por Edward Thorndike (1920), mostra que uma característica positiva, como beleza ou sucesso, pode influenciar a forma como avaliamos uma pessoa em outros aspectos. Isso significa que defeitos como arrogância ou hostilidade são relativizados diante da impressão inicial favorável.
O fascínio pelo inacessível
Para Jacques Lacan (1966), o desejo humano é estruturado pela falta: queremos justamente aquilo que parece estar além do nosso alcance. Pessoas emocionalmente indisponíveis ou que se mostram desafiadoras geram maior excitação e curiosidade, estimulando a idealização.
Ciúmes e rivalidade social
O ciúme, segundo Parrott e Smith (1993), é uma resposta emocional à ameaça percebida de perder algo ou alguém valioso. Quando um indivíduo é amplamente desejado, surge um clima de competição, reforçando ainda mais sua imagem de 'valioso' no grupo.
O paradoxo da atração
Pesquisas sobre neurociência do amor, como as de Helen Fisher (2004), mostram que relações marcadas por altos e baixos emocionais liberam dopamina no cérebro, criando um efeito de recompensa semelhante ao vício. Por isso, pessoas tóxicas podem gerar laços emocionais tão intensos quanto prejudiciais.
Conclusão
Ser amado e desejado não depende apenas de bondade ou empatia, mas de uma combinação de fatores psicológicos e sociais. O carisma, o efeito halo, o fascínio pelo inacessível e a dinâmica do ciúme ajudam a explicar por que algumas pessoas, mesmo sendo tóxicas, continuam a atrair relacionamentos e admiração. Entender esses mecanismos pode ser o primeiro passo para lidar com eles de forma mais consciente e saudável.
Referências
Fisher,
H. (2004). Why We Love: The Nature and Chemistry of Romantic Love.
New York: Henry Holt.
Lacan, J. (1966). Écrits. Paris:
Seuil.
Parrott, W. G., & Smith, R. H. (1993). Distinguishing
the experiences of envy and jealousy. Journal of Personality and
Social Psychology, 64(6), 906–920.
Riggio, R. E. (2009).
Charisma and social influence. The Social Psychology of Power,
171-194.
Thorndike, E. L. (1920). A constant error in
psychological ratings. Journal of Applied Psychology, 4(1), 25–29.