A solidão de quem é único

Há uma solidão que transcende o simples estar só:
é a solidão de quem recusa as migalhas emocionais de um mundo apressado,
onde ninguém é de ninguém
e o amor muitas vezes não passa de conveniência.

Sartre dizia que estamos condenados à liberdade;
mas alguns, mais do que livres, são condenados à fidelidade.
Não a fidelidade social, mas a fidelidade da alma,
aquela que não se dobra diante da carência, do tédio ou da vaidade.

Esse ser não trai por impulso, porque conhece o peso de suas escolhas.
Não trai por comodidade, porque sabe que a verdade é sempre mais árdua.
Não trai por tédio, pois entende que o fascínio é obra da constância.
Não trai por carência, porque ama mesmo quando amar fere.
Não trai por vaidade, já que não precisa de testemunhas para ser leal.
Não trai por perfeccionismo, porque enxerga beleza na imperfeição.
Não trai por indecisão, porque ao escolher, escolhe inteiro.
Não trai por liberdade, pois sabe que o amor não aprisiona, revela.
Não trai por ambição, já que não negocia aquilo que é sagrado em si.
Não trai por curiosidade, porque já vislumbrou a intensidade maior:
o próprio amor que carrega.
Não trai por fuga, porque encara até o inferno ao lado de quem ama.

Nietzsche escreveu que “o amor é o estado no qual o homem vê as coisas como elas não são”.
E, ainda assim, há quem ame de forma tão verdadeira
que se recuse a trair até mesmo as ilusões que sustentam esse amor.

Essas não são virtudes que enfeitam;
são fardos que pesam.
São sentenças de quem ama com uma radicalidade rara,
e que, por isso, experimenta a mais profunda das solidões:
a solidão de ser único num mundo
em que quase todos se contentam com menos.