O Complexo de Édipo é um conceito central da psicanálise, formulado por Sigmund Freud (1856-1939), inspirado na tragédia grega Édipo Rei, de Sófocles (Freud, 1925/2001). Segundo Freud, trata-se de uma fase do desenvolvimento infantil em que a criança direciona sentimentos inconscientes de desejo pelo genitor do sexo oposto e sentimentos de rivalidade para o genitor do mesmo sexo.
Desenvolvimento do complexo
Durante a fase fálica (aproximadamente dos 3 aos 6 anos), a criança passa a explorar seu corpo, reconhecer diferenças sexuais e perceber que não é o centro exclusivo da atenção dos pais. Nesse período, o menino desenvolve “um desejo pela mãe e, concomitantemente, hostilidade e ciúmes em relação ao pai” (Freud, 1925/2001, p. 85).
Freud descreve que essa experiência é inevitável e constitui um estágio crucial do desenvolvimento da identidade e da sexualidade. O pai atua como figura de contenção, ajudando o menino a internalizar normas sociais e identificar-se com ele: “O pai é quem deve interromper este conflito, permitindo à criança estabelecer sua própria identidade sexual” (Freud, 1925/2001, p. 87).
Complexo de Electra
O fenômeno equivalente nas meninas é denominado Complexo de Electra, termo cunhado por Carl Gustav Jung (1875-1961), baseado na tragédia grega Electra (Jung, 1953). Nesse processo, a menina direciona desejo ao pai e rivalidade à mãe. Freud, entretanto, referia-se a essa dinâmica como Édipo feminino, considerando-a uma variação do mesmo mecanismo psíquico (Freud, 1925/2001, p. 92).
Referência na literatura grega
A tragédia Édipo Rei narra a história de Édipo, que, desconhecendo sua origem, mata o próprio pai e casa-se com a mãe. Após descobrir a verdade, Jocasta se suicida e Édipo se cega. Freud observou na peça uma dramatização dos conflitos inconscientes universais: “Seu destino nos move apenas porque poderia ter sido o nosso — porque o oráculo lançou a mesma maldição sobre nós antes do nosso nascimento, como sobre ele” (Freud, 1925/2001, p. 79).
Consequências de um complexo mal resolvido
Freud alertou que a não resolução do Complexo de Édipo pode gerar dificuldades emocionais e comportamentais na vida adulta, como dificuldades nos relacionamentos, comportamentos de submissão ou conflitos ligados à sexualidade: “O fracasso na superação do complexo de Édipo pode repercutir em toda a vida psíquica do indivíduo” (Freud, 1925/2001, p. 89).
Considerações finais
O Complexo de Édipo e o Complexo de Electra permanecem fundamentais para a compreensão psicanalítica da formação da identidade e da sexualidade. Apesar das críticas e revisões contemporâneas, essas teorias continuam a influenciar a psicologia clínica, a psicanálise e a literatura sobre desenvolvimento infantil.
Referências
Freud, S. (2001). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (3ª ed., traduzido do alemão por M. L. G. de Carvalho). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1925)
Jung, C. G. (1953). The Collected Works of C. G. Jung: Volume 9 (Part 1) Archetypes and the Collective Unconscious. Princeton: Princeton University Press.
Sófocles. (2000). Édipo Rei (tradução de M. da Gama). São Paulo: Martins Fontes.