PORTUGUÊS
Nesta prova, considera-se uso correto da língua portuguesa que está em conformidade com o padrão
culto escrito.
(FCC – TRF 4ª Reg. - 2010) Atenção: As questões de números 1 a 2 referem-se ao texto que segue.
Justiça e burocracia
A finalidade maior de todo processo judicial é chegar a uma sentença que condene o réu, quando provada a culpa, ou o absolva, no caso de ficar evidenciada sua inocência ou se nada vier a ser efetivamente comprovado contra ele. O pressuposto é o de que, em qualquer dos casos, a sentença terá sido justa. Mas nem sempre isso ocorre. O caminho processual é ritualístico, meticuloso, repleto de cláusulas, de brechas para interpretação subjetiva, de limites de prazos, de detalhes técnicos – uma longa jornada burocrática, em suma, em que pequenos subterfúgios tanto podem eximir de condenação um culpado como penalizar um inocente.
Réus poderosos contam com equipes de advogados particulares experientes e competentes, ao passo que um acusado sem recursos pode depender de defensores públicos mal remunerados e indecisos quanto à melhor maneira de conduzir um processo.
No limite, mesmo os réus de notória culpabilidade, reincidentes, por exemplo, em casos de corrupção, acabam por colecionar o que cinicamente chamam de “atestados de inocência”, sucessivamente absolvidos por força de algum pequeno ou mesmo desprezível detalhe técnico.
Quanto mais burocratizados os caminhos da justiça, maior a possibilidade de que os “expedientes” das grandes “raposas dos tribunais” se tornem decisivos, em detrimento da substância e do mérito essencial da ação em julgamento. A burocracia dos tortuosos caminhos judiciais enseja a vitória da má-fé e do oportunismo, em muitos casos; em outros, multiplica entraves para que uma das partes torne evidente a razão que lhe assiste.
(Domiciano de Moura)
01. Está clara e correta a redação da frase:
A. Nada se garante quanto a justiça, graças ao excesso de burocracia onde caracteriza-se o
andamento dos processos.
B. Através de recursos baixos, evita-se que um notório corrupto se distingua de um homem honesto, embora a recíproca não seja verdadeira.
C. A reincidência do réu em atos de corrupção nada significou para o juiz, que se mostrou mais preocupado com minúcias técnicas do processo.
D. Tanto mais burocracia, quanto maior a possibilidade de que se ofereça entraves para um julgamento proveitoso e com isenção de um caso.
E. Pode ocorrer má-fé e oportunismo, nos casos aonde existem brechas para que esses venham a imperar, desde que a burocracia lhes facilite.
A alternativa correta e com redação clara é a letra C:
C. A reincidência do réu em atos de corrupção nada significou para o juiz, que se mostrou mais preocupado com minúcias técnicas do processo.
Essa frase está gramaticalmente correta, com pontuação adequada, vocabulário preciso e construção clara.
Agora, vejamos os erros nas demais:
A.
Nada se garante quanto a justiça, graças ao excesso de burocracia onde caracteriza-se o andamento dos processos.
Erros:
-
“quanto a justiça” → o correto é “quanto à justiça” (crase obrigatória).
-
“onde caracteriza-se” → “onde” é inadequado, pois se refere a lugar. Melhor seria: “em que se caracteriza” ou “na qual se caracteriza”.
B.
Através de recursos baixos, evita-se que um notório corrupto se distingua de um homem honesto, embora a recíproca não seja verdadeira.
Erros:
-
“Através de recursos baixos” → “através de” deve ser evitado quando não se trata de movimento físico. Melhor: “Por meio de recursos baixos”.
-
Ambiguidade e leve confusão lógica no final.
D.
Tanto mais burocracia, quanto maior a possibilidade de que se ofereça entraves para um julgamento proveitoso e com isenção de um caso.
Erros:
-
A construção “Tanto mais..., quanto mais...” deveria ser “Quanto mais burocracia, tanto maior...”.
-
“com isenção de um caso” está truncado e impreciso. Melhor seria “julgamento isento”.
E.
Pode ocorrer má-fé e oportunismo, nos casos aonde existem brechas para que esses venham a imperar, desde que a burocracia lhes facilite.
Erros:
-
“aonde” → só se usa para ideia de movimento para um lugar. Correto aqui seria “onde”.
-
“esses venham a imperar” → construção um pouco pesada e rebuscada demais.
✅ Gabarito: C.
02. A frase em que se respeitam plenamente as regras de concordância verbal é:
A. “Raposas dos tribunais” é a expressão com a qual muitos identificam os advogados matreiros,
que se valem da tortuosidade dos ritos processuais.
B. Costuma valer-se de algum desprezível detalhe técnico os causídicos que sabem tirar proveito
da burocracia judicial.
C. A tortuosidade dos caminhos judiciais acabam por ensejar um sem-número de distorções no andamento de um processo.
D. Falhas nos julgamentos sempre haverão, mas a excessiva burocratização dos ritos jurídicos acaba por multiplicá-las.
E. Não cabem aos defensores públicos, em geral mal remunerados e desmotivados, a responsabilidade integral por sua insegurança diante dos entraves burocráticos.
A alternativa correta é a letra A.
Vamos analisar cada uma:
A. “Raposas dos tribunais” é a expressão com a qual muitos identificam os advogados matreiros, que se valem da tortuosidade dos ritos processuais.
✅ Correta.
-
O sujeito da oração é “Raposas dos tribunais” (uma expressão).
-
O verbo "é" está no singular, concordando com o sujeito “a expressão”.
-
Tudo certo com a concordância verbal e nominal.
B. Costuma valer-se de algum desprezível detalhe técnico os causídicos que sabem tirar proveito da burocracia judicial.
❌ Errada.
-
O sujeito da oração é “os causídicos” (plural), mas o verbo “costuma” está no singular.
-
Correto seria: “Costumam valer-se...”
C. A tortuosidade dos caminhos judiciais acabam por ensejar um sem-número de distorções no andamento de um processo.
❌ Errada.
-
O sujeito é “A tortuosidade” (singular), apesar de vir seguido de um complemento “dos caminhos judiciais”.
-
O verbo deveria estar no singular: “acaba por ensejar...”
D. Falhas nos julgamentos sempre haverão, mas a excessiva burocratização dos ritos jurídicos acaba por multiplicá-las.
❌ Errada.
-
O verbo “haver” no sentido de existir é impessoal → não admite sujeito e deve ficar no singular.
-
Correto seria: “Falhas nos julgamentos sempre haverá...”
E. Não cabem aos defensores públicos, em geral mal remunerados e desmotivados, a responsabilidade integral por sua insegurança diante dos entraves burocráticos.
❌ Errada.
-
O sujeito é “a responsabilidade integral” (singular), mas o verbo “cabem” está no plural.
-
Correto seria: “Não cabe... a responsabilidade...”
✅ Gabarito: Letra A.
03. Evitam-se as abusivas repetições do período abaixo, substituindo os elementos sublinhados,
respectivamente, por:
O advogado de defesa encaminhou uma apelação. Para fundamentar a apelação, organizou a apelação numa progressão de itens bem articulados. Ainda assim, recusaram a apelação os juízes do Supremo, que consideraram a apelação inconsistente de todo.
A. fundamentá-la, organizou-lhe, recusaram a ela, consideraram-na.
B. fundamentá-la, organizou-a, recusaram-na, a consideraram.
C. fundamentar a ela, a organizou, recusaram-lhe, lhe consideraram.
D. fundamentar-lhe, organizou-lhe, recusaram-na, a consideraram.
E. a fundamentar, organizou-a, recusaram-lhe, consideraram-na.
A alternativa correta é a letra B.
Vamos analisar com atenção o período original e as substituições feitas:
Frase original:
O advogado de defesa encaminhou uma apelação. Para fundamentar a apelação, organizou a apelação numa progressão de itens bem articulados. Ainda assim, recusaram a apelação os juízes do Supremo, que consideraram a apelação inconsistente de todo.
A repetição de "a apelação" é o que precisa ser evitada com pronomes adequados, respeitando a regência verbal e a colocação pronominal.
Alternativa B:
fundamentá-la, organizou-a, recusaram-na, a consideraram.
✔️ fundamentá-la – verbo "fundamentar" é transitivo direto, então usamos a + la (a apelação). Correto.
✔️ organizou-a – "organizar" também é verbo transitivo direto, então o pronome está certo.
✔️ recusaram-na – "recusar" é verbo transitivo direto, portanto "a apelação" vira na.
✔️ a consideraram – o verbo "considerar" também é transitivo direto, exige objeto direto. Correto.
As outras estão erradas por:
-
A: “organizou-lhe” e “recusaram a ela” → errado, pois os verbos exigem objeto direto e não indireto (não se usa “lhe” com eles).
-
C: “fundamentar a ela”, “recusaram-lhe”, “lhe consideraram” → todos incorretos: uso indevido de objeto indireto.
-
D: “fundamentar-lhe”, “organizou-lhe” → "lhe" de novo usado com verbos que pedem objeto direto.
-
E: “recusaram-lhe” → mesmo erro: "recusar" exige objeto direto, não se usa “lhe”.
✅ Gabarito: Letra B.
04. (CESGRANRIO – Petrobrás- 2011) Em qual dos pares de frases abaixo o (a) destacado deve apresentar acento grave indicativo da crase?
A. Sempre que possível não trabalhava a noite. / Não se referia a pessoas que não participaram do
seminário.
B. Não conte a ninguém que receberei um aumento salarial. / Sua curiosidade aumentava a medida
que lia o relatório.
C. Após o julgamento, ficaram frente a frente com o acusado. / Seu comportamento descontrolado
levou-o a uma situação irremediável.
D. O auditório fica no segundo andar a esquerda. / O bom funcionário vive a espera de uma promoção.
E. Aja com cautela porque nem todos são iguais a você. / Por recomendação do médico da empresa, caminhava da quadra dois a dez.
A alternativa correta é a letra D.
Vamos analisar os pares para identificar onde há necessidade do acento grave indicativo de crase (à), que ocorre quando há a preposição "a" + artigo definido feminino "a" (ou pronome demonstrativo "a").
Análise de cada alternativa:
A.
-
"Sempre que possível não trabalhava a noite."→ Erro: “a noite” exige crase → à noite (locução adverbial de tempo com palavra feminina).→ Deveria ter acento.
-
"Não se referia a pessoas que não participaram do seminário."→ Correto sem crase, pois “pessoas” está no plural → a + pessoas = a pessoas (sem crase).
→ Errada, pois a primeira frase precisava de crase e não tem.
B.
-
"Não conte a ninguém que receberei um aumento..."→ Correto, “ninguém” não aceita artigo → sem crase.
-
"Sua curiosidade aumentava a medida que lia o relatório."→ Erro: expressão correta é à medida que, locução conjuntiva que exige crase.
→ Errada, precisava de crase na segunda frase.
C.
-
"Ficaram frente a frente com o acusado."→ Erro: locução “frente à frente” exige crase.
-
"Levou-o a uma situação irremediável."→ Correto: “a” (preposição) + “uma” (artigo indefinido) → sem crase.
→ Errada, pois a primeira frase precisava de crase.
D. ✅
-
"O auditório fica no segundo andar a esquerda."→ Erro: expressão correta é à esquerda (locução adverbial de lugar com palavra feminina). Precisa de crase.
-
"O bom funcionário vive a espera de uma promoção."→ Erro: expressão correta é à espera (locução prepositiva feminina). Também exige crase.
→ CORRETA, ambas devem ter crase. ✅
E.
-
"Aja com cautela porque nem todos são iguais a você."→ Correto sem crase: “você” é pronome pessoal, não admite artigo → sem crase.
-
"Caminhava da quadra dois a dez."→ Erro: usa-se crase em expressões que indicam intervalo com palavras femininas → de… à dez.
→ Errada, pois deveria ter crase na segunda frase.
-
"O auditório fica no segundo andar à esquerda."
-
"O bom funcionário vive à espera de uma promoção."
05. A grafia de todas as palavras está correta na frase:
A. A sentença foi exarada sem que o juiz sequer vislumbrasse os subterfúgios de que lançou mão o pertinaz advogado de defesa.
B. A alta inscidência de erros judiciais constitui – ou deveria constituir – um alerta para que nossos juristas analizem com mais sensatez os ritos processuais.
C. Acabam sofrendo discriminação, nos julgamentos, os réus mais pobres, assistidos por advogados pagos irrizoriamente pelo herário público.
D. Um advogado honesto deve sentir-se pezaroso por ter de enfrentar a malícia de pares seus, que chegam a se gabar por ganharem uma causa inescrupulozosamente.
E. É no fringir dos ovos – na hora da sentença – que se verá se o juiz se deixou ou não coptar pela argumentação falaciosa do esperto advogado.
Justificativa das demais alternativas com erros:
A alternativa correta, em que todas as palavras estão grafadas corretamente, é:
A. A sentença foi exarada sem que o juiz sequer vislumbrasse os subterfúgios de que lançou mão o pertinaz advogado de defesa.
B.
-
"inscidência" → errado. O correto é incidência.
-
"analizem" → errado. O correto é analisem.
C.
-
"irrizoriamente" → errado. O correto é irrisoriamente.
-
"herário" → errado. O correto é erário.
D.
-
"pezaroso" → errado. O correto é penoso ou pesaroso (com s).
-
"inescrupulozosamente" → errado. O correto é inescrupulosamente.
E.
-
"fringir dos ovos" → errado. A expressão correta é fritar dos ovos ("no frigir dos ovos", com g).
-
"coptar" → errado. O correto é cooptar.
✅ Gabarito: A.