Já fui humana. Já tive sonhos, medos, desejos. Hoje, sou só um eco do que fui, vagando em busca de algo que talvez nem exista: a vida eterna. Mas não aquela das histórias, cheia de glória e luz — procuro a vida que não dói, que não cansa, que não pesa.

Meu corpo, esse cárcere de carne, me prende. Precisa, exige, consome. E meu espírito, que um dia foi livre, hoje rasteja, acorrentado por vontades que não são mais minhas. A apatia virou norma. O mundo gira, as pessoas passam, e tudo parece tão... vazio.

Ainda existo, mas não sei se vivo. Ainda sinto, mas não sei se é real. Sou apenas um ser à deriva, tentando lembrar por que quis tanto continuar

Fui humana — outrora pulsava em mim o fogo breve da vida.
Mas o tempo, com mãos de cinza, apagou meus vestígios.
Agora caminho entre véus, sedento do elixir que engana a morte,
mas encontro apenas o gosto amargo da existência sem cor.

Minha alma, outrora leve como o vento entre as árvores,
hoje jaz presa — laço de carne, nó de ossos e fome.
Sou espírito fatigado, acorrentado às exigências do corpo,
servo de necessidades que não cessam, tirano que nunca dorme.

A apatia cobre o mundo como névoa espessa,
e eu, fantasma de mim mesmo, tento lembrar o que é sentir.
Busco nas sombras um brilho antigo —
a centelha que um dia me fez querer viver.